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Ex-funcionária de farmácia é indenizada em R$ 56 mil após sofrer racismo no 1º dia de trabalho em SP

A gestora de saúde Noemi Ferrari, ex-funcionária da rede farmácias Raia Drogasil, ganhou na Justiça de São Paulo uma indenização de R$ 56 mil por ser vítima de racismo em seu primeiro dia de trabalho. O caso ocorreu em 2018 em São Caetano do Sul, na Grande SP, e a condenação, em 2024, mas o caso viralizou nas redes sociais nesta semana após a paulista expor o caso no TikTok.
A indenização foi recebida por Noemi somente em março deste ano. O ato de racismo foi gravado em vídeo por uma colega de trabalho de cargo maior. “Essa daqui é a Noemi, nossa nova colaboradora. Fala um oi, querida. Tá escurecendo a nossa loja? Tá escurecendo. Acabou a cota, tá? Negrinho não entra mais“, diz a mulher, aos risos.
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@_noemys “Sim, vocês estão VENDO e OUVINDO isso mesmo. Fui vítima não só de racismo, e não pretendo ficar em silêncio. Racismo e preconceito não é opinião, é crime. #RacismoÉCrime #Justiça #JuntoscomNono ♬ Surrender – Natalie Taylor
O vídeo foi enviado em um grupo de WhatsApp. “Nossa, vai ficar no caixa? Que incrível. Vai tirar lixo? Que incrível. Paninho também, passar no chão? Ah… E você disse sim, né?”, continuou a funcionária.
Em entrevista ao g1, Noemi disse que ficou “anestesiada” no momento. Ela conta que continuou na empresa, pois acho que poderia “fazer a diferença”, e chegou a ser promovida a supervisora em 2022. No entanto, em 2022 ela foi agredida verbalmente e quase fisicamente por um supervisor.
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Foto:
Noemi foi alvo de racismo por uma colega de trabalho que tinha um cargo maior
Reprodução/Redes Sociais
Após ser demitida, Noemi resolveu buscar seus direitos na Justiça e denunciar o racismo sofrido anos atrás. “Eu não queria processar, queria esquecer essa etapa da minha vida, foi uma fase muito ruim. Mas aí recebi uma indireta de uma funcionária, como se eu tivesse jogado tudo para o alto a troco de nada. Esse foi o empurrãozinho”, comentou.
Na decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, a juíza-relatora Erotilde Minharro afastou a tese da defesa da Drogasil, que disse ter sido um momento de “recreação”.
A conduta “ofende a dignidade e a honra subjetiva da empregada, circunstância bastante grave e configuradora de dano moral”.
Segundo a juíza, o chamado racismo recreativo “se configura em uma forma de discriminação disfarçada de humor, na qual características físicas ou culturais de minorias raciais são associadas a algo desagradável e inferior, mas em forma de ‘piadas’ ou ´brincadeiras’”.
Atualmente, Noemi é gestora na área de saúde e conta com o apoio de amigos e familiares. “Hoje eu estou bem, graças a Deus. Ir para a igreja, ter uma rede de apoio, estar com pessoas que eu amo, isso tem me feito bem. Minha psicóloga e meus advogados estão me apoiando bastante”, disse ao g1.
O que diz a Drogasil?
“Lamentamos profundamente o episódio que ocorreu em 2018. Reiteramos o compromisso da RD Saúde com o respeito, a diversidade e a inclusão. Nossa empresa não compactua com nenhum tipo de discriminação. Diversidade e respeito são valores primordiais.
Temos investido de forma consistente em desenvolvimento de carreiras e iniciativas de promoção e de equidade racial. Em 2024, encerramos o ano com mais de 34 mil funcionários pretos e pardos e nos orgulhamos de ter atualmente 50% das posições de liderança ocupadas por pessoas negras, resultado direto de programas estruturados de inclusão e valorização. Nosso propósito é continuar investindo em ações concretas para garantir ambientes de trabalho diversos e inclusivos e contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária”.
