BRASIL
Quem disputa e o que está em jogo na eleição para a presidência do PT? – PontoPoder

Os nomes que irão disputar o comando do PT nos estados e nos municípios de todo o País foram definidos, com o fim do prazo para inscrições de candidaturas à presidência e também das chapas para formar os diretórios. No Ceará, o Processo de Eleição Direta (PED) do PT coloca, em disputa direta, grupos que já vinham polarizando dentro do partido.
Liderado pela ex-prefeita de Fortaleza e deputada federal Luizianne Lins (PT), o Campo de Esquerda inscreveu candidaturas tanto para a presidência do PT Fortaleza, com a vereadora Mari Lacerda (PT), como para o PT Ceará, com a também vereadora Adriana Almeida (PT).
Em Fortaleza, outros dois candidatos devem concorrer ao comando do partido: o professor Eudes Baima, pelo Diálogo e Ação Petista (DAP), e o ex-deputado estadual Antônio Carlos, pelo Campo Popular.
O último grupo foi lançado em abril deste ano e conta com figuras próximas do governador Elmano de Freitas (PT) e do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), inclusive do atual presidente do PT Fortaleza, o deputado estadual Guilherme Sampaio (PT).
A nível estadual, o Campo de Esquerda deve disputar apenas com o Campo Democrático, corrente liderada pelo deputado federal José Guimarães (PT), líder do Governo Lula (PT).
Conforme apurou o Diário do Nordeste, o grupo o parlamentar decidiu apoiar a candidatura à reeleição do atual presidente do PT Ceará, Antônio Filho, o Conin. Fontes ouvidas pela reportagem confirmaram que o candidato também conta com apoio de Elmano de Freitas e de Camilo Santana.
Veja também
Veja também
Com a eleição marcada para o próximo dia 6 de julho, os candidatos devem iniciar agora, de forma oficial, a campanha. O que envolve também articulações com as demais correntes e grupos que formam o partido, inclusive os adversários que lançaram candidaturas à presidência ou as correntes que lançaram apenas chapa para os demais cargos do diretório. As chapas são inscritas de forma separada, de acordo com as regras.
Sem candidato à presidência do PT Fortaleza, o Campo Democrático deve ser procurado — segundo os próprios candidatos ouvidos pelo Diário do Nordeste — por todas as candidaturas, embora haja a tendência de um apoio a Antonio Carlos, do Campo Popular. Em contrapartida, o Campo Popular deve apoiar a candidatura do Campo Democrático.
Por outro lado, o Diálogo e Ação Petista (DAP), apesar da candidatura em Fortaleza, deve apoiar a candidatura de Adriana Almeida para a presidência do PT Ceará.
Mas, o que significa comandar o PT no Ceará?
Quem for eleito no próximo dia 6 de julho — em votação em que todos aqueles que se filiaram no PT até o dia 28 de fevereiro de 2025 — irá comandar os respectivos diretórios por quatro anos. O que significa estar no comando do partido nas próximas eleições, as gerais de 2026 e as municipais de 2028.
No caso de quem passará a presidir o PT Ceará, por exemplo, isso significa comandar o partido na definição de chapa para o Governo do Estado, em que Elmano de Freitas (PT) deve ser candidato à reeleição, e para o Senado Federal, para o qual existem dois pré-candidatos apenas dentro do PT — José Guimarães e Luizianne Lins —, além de, pelo menos, outros sete nomes de partidos aliados sendo ventilados.
Ainda fica a cargo da direção estadual a definição de chapas para a Assembleia Legislativa do Ceará e para a Câmara dos Deputados, além da articulação da campanha presidencial no Ceará.
“Há um peso político e estratégico enorme, justamente porque o Ceará se tornou um reduto eleitoral da sigla. Fortaleza é a única capital do país administrada pelo partido e, em 2024, 46 prefeituras no interior do Estado passaram a ser geridas pelo PT”, pontua a professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) e cientista política Mariana Dionísio.
Coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Soares pontua que o PT “é um partido com especificidades” comparado a outras siglas brasileiras, principalmente quanto à influência das dinâmicas internas.
“A gente está falando de um partido que sempre que foi ajustando, ao longo do tempo, a sua estratégia eleitoral e isso sempre envolveu, em alguma medida, essa dimensão das disputas internas. Então, a presidência do diretório também coloca o grupo que estiver no comando nessa posição mais estratégica, de liderar essa estratégia eleitoral”, afirma.
O que não significa que não haja desafios para a figura que ficar na presidência do diretório.
A primeira delas é organizar o partido depois de mais uma disputa interna — que ocorre menos de um ano depois da definição da candidatura à Prefeitura de Fortaleza. “Essas disputas geram fraturas. A gente viu isso na disputa pela candidatura em 2024. Isso se reedita agora em 2025, com a disputa do PED”, argumenta Soares.
Essa organização se une à necessidade de manter uma unidade partidária, desde a militância até as grandes lideranças do partido, como Camilo Santana, José Guimarães e Luizianne Lins, e os respectivos grupos que cada um deles lidera.
“O resultado afeta desde a composição das chapas em 2026 até o tom da campanha presidencial de Lula no estado, passando pelo grau de autonomia do partido em relação a seus aliados históricos, como o PDT dos Ferreira Gomes. No final das contas, essa disputa não é apenas sobre quem vai presidir o partido — é sobre quem vai comandar o projeto político do PT no Ceará nos próximos anos”.
Camilo, Luizianne e Guimarães
A mudança no comando dos diretórios petistas no Ceará, tanto estadual como em Fortaleza, também dão indicativos sobre a posição das três principais lideranças do PT: Camilo Santana, Luizianne Lins e José Guimarães.
Com a candidatura à reeleição de Conin, o Campo Democrático busca seguir no comando do PT Ceará. O sucesso nessa empreitada significa para Guimarães, principal líder do grupo, o “reforço de seu papel como principal articulador político do partido no Ceará”.
“Nesse cenário, Guimarães sai fortalecido como operador político e é possível coordenador da campanha presidencial de Lula no estado, além de ganhar força para influenciar a sucessão de Elmano ou pleitear espaço no Senado”, completa Mariana Dionísio. Contudo, a escolha do nome para representar o grupo no PED acabou por mostrar uma “fragilidade”.
Ao contrário de outras correntes que haviam definido as candidaturas semanas antes do prazo final para a inscrição, o Campo Democrático fez o anúncio apenas nesta sexta, dia 9 de maio, último dia para a apresentação de candidaturas.
Veja também
Veja também
“Essa indefinição quanto ao nome aparenta uma fragilidade do Campo Democrático na construção do consenso e perda de capacidade de liderança para controlar o crescimento das tensões internas. O PT no Ceará está longe da coesão e mostra um reflexo do que está acontecendo no cenário nacional”, continua a cientista política.
Nome forte nas dinâmicas internas do PT, principalmente em Fortaleza, Luizianne Lins tem um desafio diferente: manter a influência dentro do partido.
A composição entre o Campo Popular e o Campo Democrático, cita Monalisa Soares, torna o cenário “pouco favorável” para a deputada federal. “Em alguma medida, isso pode isolar a Luizianne e o seu grupo dentro dessa dinâmica representativa do partido”, considera.
“Eles (Campo de Esquerda) estão tentando aglutinar todas as suas forças para tentar manter-se com alguma relevância dentro da disputa partidária interna e fazem isso também a partir da recuperação de um discurso que foi muito importante historicamente para a constituição do PT, que é o PT como um partido diferenciado. Um partido que não apenas está vinculado a processos eleitorais ou mesmo a essas dimensões da disputa política, mais propriamente institucional, mas também um partido que diz respeito a projetos coletivos, a relação com a sociedade, com os movimentos sociais”.
Apesar das dificuldades enfrentadas, ela chama a atenção para o fato do candidato escolhido pelo Campo Popular ser alguém com “um trânsito facilitado de conversa” com a ex-prefeita, principalmente com as dificuldades nestes espaços de diálogos após as eleições de 2024. “Isso revela que seu grupo ainda possui capilaridade e militância”, concorda Dionísio.
Mesmo sem estar publicamente envolvido na disputa, Camilo Santana também busca se reposicionar nas dinâmicas partidárias. Um dos caminhos foi exatamente a criação do Campo Popular — “quando a gente olha a paisagem dos aliados, vemos claramente que é um grupo ligado a ele”, define Soares.
“O grupo do Camilo está querendo converter e construir internamente uma força de influência e de capacidade, seja de veto seja de promoção ou de ter mais assento nas negociações, dentro inclusive dessa dinâmica partidária, que é mais burocrática, que é regimental, que é estatutária”, detalha a pesquisadora e professora da UFC.
Soares pontua que a força de Camilo é, principalmente, “eleitoral”. Uma influência que, claro, tem interferência nas negociações e dinâmicas internas. “Mas alguém que tem força dentro do partido, com militância, pode forçar determinados processos, como a gente viu em 2024, em que a Luizianne colocou a pré-candidatura e levou, basicamente até o último momento, a tensão sobre essa disputa”, argumenta.
“Ali ficou claramente evidente para esse grupo que não basta ter força eleitoral, que não é só apenas poder ter a capacidade de construção, de articulação. Existem decisões, no caso deste partido em específico, que passam por determinados trâmites de uma instância que é interna e que precisa também ter esse papel e essa força interna. (…) Isso mostra para esse grupo a importância também de ocupar esse espaço”.
Quem são os candidatos ao PED?
Ceará
Adriana Almeida
Vereadora de Fortaleza, Adriana Almeida concorre à presidência do PT Ceará pelo Campo de Esquerda. A inscrição da candidatura ocorreu na sexta-feira, último dia do prazo segundo o calendário do PED. Ela irá concorrer, no dia 6 de julho, com o número 390.
“Essa candidatura já diz muito da forma como ela surge. Ela surge como uma candidatura que representa uma vontade, é uma indicação do próprio Campo. Não foi de cima para baixo, foi a própria militância que definiu e houve um consenso para que seja a candidata”, disse ao PontoPoder.
Ela disse que, como candidata, ela quer aproximar o PT das bases, da militância. Ela citou, por exemplo, o número de filiações recebidas pelo partido nos últimos meses. “Essas filiações tão grandiosas, refletem na nossa militância? Será que isso vai mudar o perfil que o PT tem? A gente não quer mudar esse perfil, que é um perfil de um PT que se constrói por dentro. A gente não quer se tornar um partido que se constrói por fora”, reforça.
Ela disse ainda que a meta é fortalecer as gestões petistas e cita tanto o Governo do Ceará, sob comando de Elmano de Freitas, como a Prefeitura de Fortaleza, administrada por Evandro Leitão. “É uma candidatura que se coloca com diálogo com as bases, mas também fazemos essa construção interna de fortalecimento dos governos”, disse.
Na noite de sexta-feira (9), a postulante publicou uma nota em que defende a própria candidatura e a de Mari Lacerda como um “contraponto, uma saída à esquerda conectada aos territórios”.
“Com o protagonismo das lutas do povo e um olhar atento aos desafios do nosso tempo. Nossa candidatura representa o diálogo com a juventude, as mulheres, o povo negro e as periferias. São grandes os desafios que nos esperam em 2026, e estamos preparadas para apresentar uma gestão partidária que tenha a cara, a voz e a participação da nossa gente. Teremos disputa estadual e quem deve decidir o futuro do partido são seus filiados e filiados”, escreveu nas redes sociais.
Antônio Filho, o Conin
Legenda:
Foto:
Presidente do PT Ceará, Antônio Filho (Conin)
Fabiane de Paula
Advogado especialista em Direito Público e Administração Pública, Conin montou sua base de militância na sigla inicialmente no município de Acopiara.
Na cidade, ele atuou como procurador-geral, função que também exerceu em Cariús, Cascavel e no Consórcio de Saúde Pública de Canindé.
Foi assessor de Planejamento em Acopiara e Cascavel, além de assessor parlamentar na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) e na Câmara dos Deputados.
Em janeiro de 2019, assumiu a presidência estadual do PT após a renúncia de De Assis Dinis (PT) para, à época, comandar a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), e a saída do então presidente interino e deputado estadual Moisés Braz, que foi se dedicar ao mandato legislativo.
Veja também
Veja também
Desde então, Conin conduziu a sigla em duas eleições municipais e uma geral. Ao longo desse período, o PT ampliou sua força no Ceará, chegando ao segundo maior número de prefeituras do Estado, retomando o comando da Capital e seguindo na liderança do Governo do Ceará.
Atualmente, Conin é secretário da Regional I na gestão do prefeito Evandro Leitão (PT), em Fortaleza. Com atuação mais discreta, focada nos bastidores, o petista integra a ala mais próxima ao deputado federal José Guimarães (PT), o Campo Democrático, corrente majoritária do partido no Estado.
Apesar de ser um nome apoiado pelo parlamentar federal, pelo governador Elmano de Freitas e pelo ministro Camilo Santana, Conin ainda não se pronunciou sobre a candidatura. Ele foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.
Fortaleza
Antônio Carlos
Ex-deputado estadual, Antônio Carlos é o candidato do Campo Popular e concorre sob o número 560. Ao PontoPoder, ele relembrou a trajetória no PT, que remonta a quando integrava o movimento estudantil. Dentro do partido, atuou em diferentes cargos, como secretário geral e vice-presidente. Ele cita como metas “fortalecer o partido e fazer a defesa do nosso projeto”.
“Essas são as características principais. Com muito diálogo, com muita mobilização, com muita presença da base partidária, nos vários setores, como bairros e territórios da cidade. (…) E a gente vai fazer uma campanha nesse sentido de mobilização, de construção de unidade, de construção de diálogo”, pontua.
Ele cita a relação do PT com Fortaleza, vindo desde a eleição de Maria Luiza Fontenele em 1985, passando pelos dois mandatos de Luizianne Lins e chegando a gestão de Evandro Leitão. Ele cita, inclusive, a defesa das gestões petistas no Ceará e em Fortaleza e fala de “ampliar o diálogo com a sociedade”.
Sobre as articulações com as outras correntes do partido, inclusive aquelas que lançaram candidaturas, ele diz que o “diálogo é permanente”. “O diálogo será durante o processo e depois também, independente do que aconteça. Essa é a característica do PT, essa democracia interna”, ressalta.
Eudes Baima
Professor da Universidade Estadual do Ceará e militante histórico do PT, Eudes Baima foi lançado como candidato pelo Diálogo e Ação Petista (DAP) com o número 510. Ele pontua que a candidatura é “produto de um movimento nacional”, com outros nomes sendo lançados em todo o país.
“A nossa proposição é de alterar a política que o partido vem implementando”, resume. Em Fortaleza, por exemplo, uma das defesas é pela revogação da Reforma da Previdência, que haja uma valorização dos serviços públicos, com a diminuição da gestão de equipamentos públicos por entidades privadas e pela desmilitarização da Guarda Municipal.
“E de maneira geral, que o PT tome uma posição e faça uma gestão política e social para que haja uma inversão de prioridades no município de Fortaleza, da maior parte do orçamento ser, prioritariamente, para os bairros de população mais pobre. Essa é uma postura histórica do PT, mas que nos governos tem sido esquecida”, diz.
Ele também fala de metas para a vida interna do partido, como a organização da militância e a diminuição do número de filiações. “Parar com a política de filiações indiscriminadas, inclusive com políticos de mandato da direita e extrema direita. Isso desfigura o PT”, diz, acrescentando que é a “vida interna deve ser vivida pelos petistas”.
Mari Lacerda
Vereadora de Fortaleza, Mari Lacerda foi indicada como candidata pelo Campo da Esquerda, com o número 590. Ela explica que a candidatura é para “fazer a defesa do partido como instrumento ainda totalmente conectado com as lutas sociais da classe trabalhadora”.
Ela cita o processo de filiação realizado no PT, principalmente nos meses que antecederam o prazo para participar do PED. “Nós queremos uma militância que venha e defenda as bandeiras do partido, que inclusive resista aos momentos difíceis que o partido passa”, continua ela, citando como exemplo o período em que o presidente Lula esteve preso e a atuação da militância nesse momento.
“Nós queremos construir uma unidade muito grande do partido em torno dos desafios de 2006, que é a reeleição do presidente Lula e do governador Elmano, mas muito conectado com a nossa plataforma política. A nossa leitura hoje é que, infelizmente, o programa que a gente elegeu o Lula está um pouco sequestrado pelo Centrão, então a gente precisa ter mais força para conseguir eleger mais representantes na Câmara e no Senado para poder ter um programa mais próximo do programa que a gente elegeu nas ruas”, diz.
Sobre as possibilidade de conversar com adversários e outros grupos do partido, ela afirma que está “aberta ao diálogo”. “A nossa ideia é dialogar. Internamente, com as correntes, grupos políticos e campos políticos e estamos também querendo dialogar com a sociedade”, reforça.
