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Superlotada e com histórico de mortes: como é a prisão onde brasileira está presa no Camboja – País
A arquiteta brasileira Daniela Marys de Oliveira, de 35 anos, está detida há sete meses na Prisão Provincial de Banteay Meanchey, no norte do Camboja, uma das unidades prisionais mais problemáticas do país, marcada por superlotação severa, inundações e mortes de detentos.
De acordo com o site Camboja News, a cadeia opera muito além de sua capacidade e enfrenta atrasos nos atendimentos médicos, situação que já levou à morte de prisioneiros. Em março deste ano, um jovem de 22 anos chamado Leap Chantha, preso por porte ilegal de armas, roubo e uso de drogas, morreu na unidade após sofrer um problema cardíaco e falta de oxigenação cerebral.
A família do prisioneiro questionou a direção da prisão por não ter sido notificada imediatamente. O pai afirmou, à época, que o filho vinha reclamando da superlotação. Um levantamento do grupo de direitos humanos Licadho aponta que as prisões cambojanas operam com até 200% da capacidade em algumas instalações.
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A unidade de Banteay Meanchey também tem histórico de tragédias. Em 2013, 842 presos tiveram que ser evacuados após o presídio ser tomado por uma inundação. Segundo relatos publicados na época, “o nível da água chegou à altura do pescoço dos detentos em alguns locais”. A enchente foi provocada pelo transbordamento do rio Mekong.
É nesse cenário precário que vive Daniela, que teria sido vítima de uma rede internacional de tráfico humano. A arquiteta, segundo os familiares, foi atraída por uma falsa proposta de emprego para trabalhar com telemarketing no Camboja. O contrato prometido seria temporário, de seis meses a um ano, e ela pretendia retornar ao Brasil em seguida.
Daniela embarcou em 30 de janeiro e, ao chegar, enviou a localização à família, que logo estranhou o endereço. “Começamos a achar muito estranho: era um complexo afastado da capital, próximo da fronteira com a Tailândia”, contou Lorena, irmã de Daniela, ao jornal O Globo.
“Assim que ela entrou lá, pegaram o passaporte dela. Não tinha como ela sair. É um local sem comércio, sem estrada, sem nada”.
Pagamento de multa
De acordo com Lorena, durante o mês de fevereiro, novas vítimas chegaram ao complexo. Em março, teve início o treinamento para o suposto trabalho, quando Daniela percebeu que seria obrigada a aplicar golpes na internet. Ao se recusar, foi informada de que deveria pagar uma multa para sair.
Pouco tempo depois, os familiares relatam que drogas foram plantadas em sua bagagem, o que resultou em sua prisão. Daniela deverá ser julgada no próximo dia 23 de outubro por posse e uso de drogas. As substâncias, no entanto, não foram especificadas.
Após a prisão, a família ainda foi vítima de extorsão: criminosos usaram o celular de Daniela para se passar por ela e solicitaram dinheiro sob o pretexto de pagamento de multa. Cerca de R$ 27 mil foram transferidos antes de a família perceber a fraude.
“Eles ficaram com todos os pertences dela, inclusive o celular. Com ele, começaram a mandar mensagem para nós, se fazendo passar por ela. Falaram que tinha uma multa a ser paga. Percebemos que não era ela por conta dos erros de ortografia e também perguntamos coisas íntimas”, relatou Lorena.
O primeiro contato direto da família com Daniela ocorreu em 29 de março. A arquiteta contou o que havia acontecido e disse ter solicitado um teste toxicológico, que foi negado pelas autoridades locais. Na prisão, enfrenta dificuldades para se comunicar, pois não fala o idioma do país. Uma ONG conseguiu providenciar um advogado para defendê-la no julgamento.
Para tentar trazê-la de volta ao Brasil, a família organiza uma vaquinha virtual com meta de R$ 60 mil, destinada a cobrir custos com advogados, passagens e itens básicos de sobrevivência.

